Ser ou não ser?

Da série ser ou não ser do Fantástico, um texto interessante sobre Hume...

Hume queria retornar à forma original pela qual o homem conhece o mundo. Ele queria retornar ao modo como a criança experimenta o mundo.

Para ele, o homem possui impressões, de um lado, e idéias, de outro.

Por impressão ele entende as sensações, as paixões, as emoções quando aparecem pela primeira vez em nossa mente, vindas do mundo exterior. Por idéia ele entende a lembrança de tal impressão.

Se você sente alguma dor, por exemplo, quando queima a mão no fogo, o que você experimenta é uma impressão imediata. Depois de um tempo você se lembra de que se queimou e esta lembrança ele a chama de idéia, noção.

A impressão é mais forte e mais viva do que a lembrança que se tem dela mais tarde. Podemos chamar a impressão de original e a idéia ou a lembrança que se tem dela, de uma cópia pálida e enfraquecida do original.

Para ele, quanto mais próximas das sensações nossas idéias tiverem, mais nítidas e fortes elas serão. E quanto mais abstratas elas forem, mais pálidas e sem força.

Conhecer é perceber, sentir e relacionar estas sensações em idéias. Se as idéias que temos não nasceram de nenhuma experiência, então são fracas e sem importância.

Por isso, devemos evitar generalizações como ¿tudo¿, ¿nunca¿, ¿sempre¿. Estas afirmações não poderiam corresponder à realidade que é sempre particular, individual.

É o caso da noção de eu, ou de um núcleo de personalidade, que foi exatamente a noção que serviu de base para a filosofia de Descartes. Nossa noção de eu compõem-se na verdade de uma longa cadeia de impressões isoladas, um feixe de sensações, que nunca conseguimos vivenciar simultaneamente.

O que chamamos de eu é sempre uma experiência particular, nunca conseguimos nos relacionar com sua totalidade, com sua unidade, porque ela não existe. Nosso eu é produto de nossa imaginação que junta impressões isoladas como se fosse uma unidade. Nosso eu é uma generalização.

Às vezes formamos noções para as quais não há correspondeste na realidade material, é desta forma que surgem noções falsas sobre coisas que não existem na natureza. Por exemplo, o anjo: juntamos a impressão de um par de asas que percebemos nos pássaros, com o que conhecemos de um ser humano. Foi nossa mente que construiu essas coisas, através da imaginação. E a maioria de nossas idéias abstratas são como anjos.

Hume só aceitava como verdade aquilo que podia experimentar pelos sentidos. Ele diria que você já experimentou muitas vezes que uma pedra cai do chão quando a soltamos, só que você não experimentou o fato de que ela irá sempre cair. Em geral dizemos que a pedra cai por força da gravidade. Só que nós nunca experimentamos esta lei, tudo que experimentamos é que as coisas caem. Você acredita que sempre vai cair porque já viu isso muitas vezes, é o hábito que faz com que você pense que isso seja uma lei imutável da natureza.

Toda lei da natureza é uma generalização. O fato de durante toda a vida alguém só ter visto corvos pretos, não significa que não haja corvos brancos. Isto para ele é produto do hábito, e não algo racional. Vimos leis fixas na natureza porque ela, para nós, se tornou um hábito.

O mesmo fazemos com nossa vida: (exemplo os alunos da turma que se sentem excluídos e se excluem por serem repetentes)

Muitos consideram o raio a causa do trovão, pois o trovão sempre se segue ao raio, mas será que o raio é mesmo a causa do trovão? Não exatamente. O raio e o trovão acontecem ao mesmo tempo, mas um não causa o outro, ambos são conseqüência de uma descarga elétrica. Toda noite vem depois do dia, mas isso não quer dizer que o dia causou a noite, os dois foram causados pela rotação da Terra.

Para Hume, nossas metas na vida não são determinadas por nossos intelectos, mas por nossas sensações. Nossos comportamentos são determinados por nossos desejos e paixões. Para ele, a razão é escrava das paixões.

Um perigo que a filosofia de Hume aponta é o das conclusões precipitadas. Devemos assumir que não conhecemos realmente nada. Não sabemos nada. Todo conhecimento provém dos sentidos, das sensações e não passam de impressões. Por isso não podemos ter certeza de absolutamente nada.

Se jamais teremos um conhecimento certo e definitivo, toda certeza que podemos ter é a probabilidade. Hume foi um dos filósofos que mais influenciou a concepção de uma ciência estatística, ou probabilística, tão comum hoje em dia.